O Devido Processo Legal na Rescisão de Contratos Administrativos
A Administração Pública está vinculada a princípios constitucionais que norteiam sua atuação, entre eles o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa. Esses princípios ganham contornos ainda mais importantes quando se trata da rescisão unilateral de contratos administrativos, que, pelo impacto direto sobre direitos de particulares, não podem ser decididos de maneira arbitrária. Este artigo abordará, com profundidade técnica e jurídica, os limites e exigências legais envolvidos nessa temática.
Conceito e regime jurídico do contrato administrativo
O contrato administrativo é aquele celebrado entre a Administração Pública e particulares, com o objetivo de atender ao interesse público. Diferencia-se do contrato de direito privado por possuir cláusulas exorbitantes, que permitem à Administração impor condições unilaterais, nos termos da Lei nº 8.666/1993 (Lei de Licitações), notadamente em seu artigo 58.
Tais prerrogativas, entretanto, não são irrestritas. Mesmo diante do poder conferido à Administração de rescindir unilateralmente contratos administrativos, o exercício dessa prerrogativa deve observar os princípios constitucionais do artigo 5º, incisos LIV e LV da Constituição Federal, que garantem o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa.
Hipóteses legais de rescisão unilateral
Nos termos do artigo 78 da Lei 8.666/1993, a rescisão do contrato administrativo poderá ocorrer por diferentes motivos, incluindo inadimplemento do contratado, paralisação do objeto do contrato, subcontratação irregular, entre outros. O artigo 79, inciso I da mesma lei, expõe que a rescisão poderá ser unilateral pela Administração nos casos previstos em lei, desde que notificado o contratado para assegurar o contraditório e a defesa.
Importante destacar que a prerrogativa da rescisão unilateral não exclui a necessidade de procedimento prévio. A cláusula exorbitante, que confere esse poder, é uma arma jurídica em favor do interesse público, mas deve ser exercida com responsabilidade e sob o devido procedimento legal.
Rescisão não é sinônimo de execução imediata
A Administração que decida rescindir um contrato administrativo não pode promover a ruptura abrupta da relação contratual. É imprescindível instaurar processo administrativo regular, em que o contratado tenha oportunidade de se manifestar, produzir provas e, se for o caso, corrigir eventuais falhas contratuais.
Está sedimentado nos tribunais superiores que o exercício da autotutela pela Administração deve observar o devido processo legal. Em outras palavras, antes de rescindir um contrato, o Poder Público deve instaurar procedimento específico no qual seja garantida a ampla defesa.
A importância do contraditório e da ampla defesa
A aplicação das garantias do contraditório e da ampla defesa a processos administrativos está consagrada no artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal. Essa norma alcança inclusive os procedimentos administrativos sancionadores, como é o caso da rescisão de contrato com fundamento em alegado inadimplemento do particular.
A amplitude da defesa compreende não apenas a ciência plena dos atos do processo, mas também o direito de apresentar razões e provas, requerer diligências e impugnar as decisões que entender indevidas. O contraditório, por sua vez, significa ciência e participação ativa do administrado quanto à acusação e aos elementos da instrução probatória.
No contexto dos contratos administrativos, tais garantias são indispensáveis à higidez do ato rescisório. Rescindir de forma unilateral sem assegurar tais direitos torna o ato nulo, por violação direta ao texto constitucional.
O papel do processo administrativo na rescisão contratual
O processo administrativo de rescisão possui função central em garantir a legalidade e a legitimidade do ato praticado pela Administração. Trata-se de procedimento de natureza sancionatória e, por isso, está sujeito aos princípios que regem o exercício do poder de polícia e da atividade sancionatória do Estado.
É preciso que haja instauração formal do processo, intimação do contratado, identificação precisa das irregularidades, abertura de prazo para defesa, análise das provas eventualmente produzidas e emissão de decisão fundamentada. O descumprimento dessas etapas compromete todo o procedimento.
Instrução probatória: elemento essencial
A ampla defesa inclui o direito à produção de provas técnicas, testemunhais e documentais. Isso é especialmente sensível em contratos de prestação contínua, em que falhas ou atrasos podem decorrer de causas supervenientes. Nessas situações, a comprovação da força maior ou do caso fortuito, por exemplo, pode afastar a culpa do prestador e impedir a rescisão.
O julgador administrativo deve agir com imparcialidade e avaliar as provas produzidas com base no princípio da verdade material. A simples existência de irregularidade não autoriza a rescisão sumária; é necessário comprovar a responsabilidade do contratado.
Jurisprudência atual e posicionamentos doutrinários
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça tem sedimentado entendimento no sentido de que a Administração está sujeita ao respeito à ampla defesa e ao contraditório mesmo nos procedimentos em que detenha prerrogativas legais.
O STJ, por exemplo, em precedentes recentes, tem afirmado que, embora a Administração possa rescindir contratos administrativos unilateralmente, o exercício dessa faculdade está condicionado à observância de um procedimento legal que assegure previamente ao contratado o direito de defesa. O ato administrativo que desrespeite tais garantias é nulo, podendo ser desconstituído judicialmente.
Na doutrina, autores como Marçal Justen Filho e Celso Antônio Bandeira de Mello reforçam que a supremacia do interesse público não pode se transformar em salvo-conduto para violações de direitos constitucionais. O poder-dever de rescindir um contrato não elimina a imposição da legalidade, sob pena de a Administração incorrer em abuso de poder e responsabilização civil.
Aspectos práticos na atuação do advogado
A advocacia especializada em Direito Administrativo precisa dominar com profundidade os aspectos legais e procedimentais envolvendo contratos públicos. Tanto na defesa de contratados quanto na assessoria a entes públicos, o conhecimento técnico sobre o devido processo legal, as etapas do procedimento administrativo e os limites do poder discricionário da Administração é indispensável.
Seja para impugnar uma rescisão indevida ou para estruturar uma decisão administrativa defensável, a compreensão detalhada do tema é o diferencial da prática jurídica eficiente. Uma falha nessa atuação pode importar não apenas na nulidade do ato, mas também em responsabilidades funcionais e prejuízos à coletividade.
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A importância das garantias constitucionais nos contratos públicos
A Administração Pública não atua acima da Constituição. Toda sua atividade deve ser orientada pelo respeito aos direitos fundamentais, especialmente quando exerce poderes que afetam diretamente os direitos patrimoniais de particulares.
A tentativa de rescisão contratual sem respeito ao contraditório e à ampla defesa viola não apenas a norma constitucional, mas o próprio pacto federativo, que confere à Administração o dever de legalidade estrita. O Judiciário, nesse cenário, funciona como garantidor da ordem constitucional e instrumento de controle dos atos administrativos ilegítimos.
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Insights finais
O respeito ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa é pressuposto inafastável de validade dos atos administrativos de rescisão contratual.
A simples prerrogativa do poder público de rescindir o contrato não suprime a necessidade de procedimento formal e garantias constitucionais.
A atuação do profissional do Direito nessa área exige domínio aprofundado das normas da Lei 8.666/1993, do regime jurídico administrativo e dos precedentes jurisprudenciais aplicáveis.
O advogado bem preparado, seja para atuar para o contratado, seja assessorando o ente público, é aquele que entende os limites do poder administrativo e sabe como manejar os instrumentos processuais e administrativos de forma técnica e responsável.
Perguntas e Respostas Frequentes
1. A Administração pode rescindir um contrato de forma unilateral sem qualquer procedimento?
Não. Ainda que a lei permita a rescisão unilateral, ela deve ser precedida de processo administrativo com garantia de contraditório e ampla defesa.
2. Qual o fundamento legal para exigir ampla defesa na rescisão contratual?
O artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal assegura o contraditório e a ampla defesa nos processos administrativos, o que inclui os procedimentos de rescisão de contratos com a Administração.
3. Quais são os efeitos de uma rescisão contratual sem contraditório?
O ato é nulo por vício formal e pode ser anulado judicialmente, com consequente reparação dos prejuízos causados ao contratado.
4. O contratado pode apresentar provas durante o processo de rescisão?
Sim. O direito à ampla defesa inclui a possibilidade de produzir provas, apresentar documentos, arrolar testemunhas e requerer diligências.
5. É possível contestar judicialmente a rescisão administrativa?
Sim. Caso a rescisão tenha ocorrido sem respeito ao devido processo legal ou sem comprovação dos fundamentos legais, o particular pode buscar a tutela jurisdicional para anular o ato.
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Acesse a lei relacionada em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm
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Este artigo teve a curadoria do time da Galícia Educação e foi escrito utilizando inteligência artificial a partir de seu conteúdo original em https://www.conjur.com.br/2025-jun-14/contrato-publico-nao-pode-ser-rescindido-sem-garantia-de-ampla-defesa/.