O Crime de Homofobia e a Proteção Penal à População LGBTQIA+
Contextualização jurídica do discurso discriminatório
A Constituição Federal de 1988 consagra a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República (art. 1º, III) e estabelece como objetivo fundamental a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, IV). Nesse sentido, a repressão jurídica a atitudes discriminatórias contra pessoas LGBTQIA+ é uma exigência constitucional.
Até 2019, o Brasil não possuía uma tipificação penal específica para atos de homofobia e transfobia. Porém, o Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento da ADO 26 e do MI 4733, decidiu que, diante da omissão legislativa, a homofobia e a transfobia devem ser enquadradas como crimes de racismo conforme a Lei nº 7.716/89, com base em uma interpretação extensiva da norma para garantir a proteção dos direitos fundamentais.
Aplicação da Lei nº 7.716/89 à homofobia
A Lei nº 7.716/89 trata dos crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, sendo seu artigo 20 o núcleo de repressão a discursos discriminatórios: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
Com a decisão do STF, o conceito de “raça” passou a englobar também a orientação sexual e a identidade de gênero, de forma a viabilizar a penalização de condutas motivadas por preconceito homofóbico ou transfóbico.
Essa interpretação foi declarada como provisória, válida até que o Congresso Nacional edite uma lei específica. Portanto, hoje, a criminalização está fundamentada em uma construção jurisprudencial voltada à efetividade dos direitos fundamentais.
Elementos do tipo penal e condutas puníveis
É essencial entender que o tipo penal do artigo 20 da Lei nº 7.716/89 é bastante abrangente. Ele exige como elemento subjetivo o dolo de induzir ou incitar o preconceito ou a discriminação. Não se trata de mera opinião pessoal expressa em sigilo, mas de manifestações públicas — inclusive em redes sociais — que tenham o potencial de propagar o ódio ou exclusão contra grupos vulneráveis.
As penas variam de um a três anos de reclusão e multa, podendo ser aumentadas se houver divulgação em meios de comunicação ou redes sociais. Quando o discurso é praticado no exercício de atividade profissional, como por empresários, influenciadores ou servidores públicos, há incidência agravada da pena e, eventualmente, desdobramentos administrativos ou civis.
Homofobia como racismo: implicações jurídicas
Ao enquadrar a homofobia como racismo, a decisão do STF conferiu características jurídicas importantes às infrações praticadas com esse fundamento discriminatório. Dentre os efeitos mais relevantes, destaca-se o fato de que o crime de racismo é imprescritível e inafiançável, nos termos do artigo 5º, XLII, da Constituição.
Isso significa que, mesmo que o Estado não processe o réu de forma imediata, a ação penal poderá ser proposta a qualquer tempo, sendo inaplicável o instituto da prescrição. Além disso, por ser inafiançável, o réu não pode ser liberado mediante o pagamento de fiança em sede policial.
No entanto, há críticas quanto à analogia feita pelo STF. Parte da doutrina considera que há limites para a extensividade da norma penal, sob pena de violação ao princípio da legalidade estrita (nullum crimen sine lege). Outros defendem que, diante da omissão legislativa e da urgência de garantir proteção penal à população LGBTQIA+, a atuação do STF foi legítima.
Responsabilidade penal de autoridades públicas
Outra implicação jurídica relevante é a apuração da conduta de autoridades públicas, como agentes de segurança, delegados, promotores ou magistrados, que eventualmente deixem de agir diante da prática de crimes de homofobia.
O artigo 319 do Código Penal prevê o crime de prevaricação, que consiste em “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”. Se ficar demonstrado que uma autoridade deixou de instaurar inquérito ou arquivou indevidamente denúncia por motivação pessoal, há a possibilidade de responsabilização criminal e administrativa.
Além disso, podem ser invocados os princípios da atuação funcional, como o dever de agir com imparcialidade, legalidade, moralidade e transparência, sob pena de sanções disciplinares por entidades de controle interno e externo.
Relevância da instrução probatória
Nos delitos relacionados à homofobia, a obtenção de prova eficaz é fundamental. A materialidade pode se dar por vídeos, áudios, mensagens em redes sociais, testemunhos e demais elementos que demonstrem o viés discriminatório da conduta.
O dolo específico de incitar o preconceito exige interpretação cuidadosa da intenção do agente. Expressões de opinião que não ultrapassem os limites da crítica poderão ser tratadas sob o manto da liberdade de expressão, que também é tutelada constitucionalmente. Contudo, o discurso que se transforma em arma de exclusão social perde essa proteção.
Por isso, o papel do advogado na investigação e instrução processual é estratégico, seja na defesa, seja na acusação, exigindo domínio técnico sobre os institutos do Direito Penal e do Processo Penal Aplicado. Para profissionais que desejam se aprofundar nesse tema e atuar com excelência jurídica, uma excelente oportunidade de formação é a Pós-Graduação em Direito Penal e Processo Penal Aplicado.
Interseção entre Direito Penal e Direitos Humanos
A proteção jurídica das minorias demanda uma abordagem intersetorial. O Direito Penal atua, nesse contexto, como última ratio, ou seja, como instrumento de repressão às condutas mais grave, sendo precedido por outras medidas pedagógicas e políticas públicas de inclusão.
Porém, quando o Estado é ineficiente ou omisso, o sistema penal passa a ocupar espaço significativo na defesa dos direitos humanos. A criminalização da homofobia e da transfobia é expressão desse movimento, demonstrando que o Direito deve evoluir conforme a transformação da sociedade.
Internacionalmente, esse padrão mínimo de proteção também é observado em tratados e convenções dos quais o Brasil é signatário, como o Pacto de San José da Costa Rica e os princípios da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Desafios enfrentados pela advocacia no tema
A atuação da advocacia em casos envolvendo homofobia exige habilidade técnica, sensibilidade social e profundo conhecimento interdisciplinar. Questões relativas à liberdade de expressão, crimes contra a honra, racismo, prova digital e litigiosidade judicial concentram-se nesse tipo de demanda.
Advogados precisam, também, conhecer os limites éticos da atuação, inclusive quando representam agentes públicos ou privados envolvidos em apurações e sindicâncias. A defesa responsável deve caminhar ao lado do respeito à dignidade humana, conceito que estrutura todo o ordenamento jurídico brasileiro.
Aqueles que desejam se especializar em temas penais, inclusive com foco na criminalidade contemporânea e suas interseções com os direitos da minoria, encontram uma abordagem estruturada no curso Pós-Graduação em Direito Penal e Processo Penal Aplicado.
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Insights finais
O enfrentamento à homofobia pelo Direito Penal representa uma importante conquista na proteção dos direitos fundamentais e da dignidade da pessoa humana. O enquadramento de tais condutas como racismo reitera a gravidade do discurso de ódio enquanto fator de exclusão e violência.
No entanto, é necessário que operadores do Direito estejam atentos às nuances legais e probatórias, para que a aplicação da norma penal seja legítima, proporcional e alinhada com os princípios fundamentais. Mais do que punir, é fundamental educar, civilizar e promover igualdade.
Por isso, a especialização é a chave para uma atuação jurídica efetiva, crítica e socialmente comprometida.
Perguntas e respostas frequentes
1. A homofobia é crime específico previsto em lei?
Não. Ainda não há lei específica no Brasil sobre homofobia. Porém, o STF determinou que essas condutas devem ser tratadas como crime de racismo, nos termos da Lei nº 7.716/89, até que o Congresso legisle sobre o tema.
2. Quais são as principais consequências jurídicas para quem pratica homofobia pública?
A prática pode ser punida com reclusão de um a três anos e multa, podendo haver agravantes, como uso de redes sociais ou função pública. Além disso, por ser equiparada ao racismo, a infração é imprescritível e inafiançável.
3. Autoridades públicas podem ser responsabilizadas por omissão em casos de homofobia?
Sim. Se a omissão for dolosa ou motivada por sentimento pessoal, pode configurar crime de prevaricação ou falta funcional, sujeita a responsabilização penal e administrativa.
4. A liberdade de expressão pode ser invocada para justificar comentários homofóbicos?
Não. A liberdade de expressão não ampara manifestações de incitação ao ódio ou discriminação. O STF já firmou entendimento de que discursos homofóbicos não são protegidos constitucionalmente.
5. Como advogados podem se preparar para atuar nessa área?
Recomenda-se forte base em Direito Penal e Processual Penal, além de compreensão interdisciplinar com os Direitos Humanos. Cursos como a Pós-Graduação em Direito Penal e Processo Penal Aplicado são essenciais para capacitação técnica e prática.
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Este artigo teve a curadoria do time da Galícia Educação e foi escrito utilizando inteligência artificial a partir de seu conteúdo original em https://www.conjur.com.br/2025-jul-04/empresario-e-condenado-por-homofobia-e-juiza-quer-investigacao-de-delegada/.