Tributação de Software: Comparação entre ISS e ICMS

Artigo sobre Direito

A Tributação de Softwares no Direito Brasileiro: Análise Jurídica e Implicações Práticas

A definição da correta incidência tributária sobre softwares é uma das discussões mais relevantes e complexas no Direito Tributário contemporâneo. Envolve não apenas o entendimento técnico-jurídico sobre a natureza das operações com programas de computador, mas também as divergências interpretativas entre os entes federativos, especialmente no que se refere à competência tributária entre Estados e Municípios.

Esta matéria requer do jurista uma leitura que conecte princípios constitucionais, normas infraconstitucionais e a jurisprudência atual. O domínio sobre o tema é essencial para advogados tributaristas, consultores e profissionais que atuam na assessoria fiscal de empresas que desenvolvem, comercializam ou utilizam software em suas atividades.

Natureza Jurídica do Software: Bem ou Serviço?

A base da questão está na definição da natureza jurídica do software. Trata-se de bem (mercadoria) ou serviço? Esse questionamento não é trivial, pois determinará diretamente se incidirá o ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (de competência estadual) – ou o ISS – Imposto sobre Serviços (de competência municipal).

O Código Tributário Nacional, em seu artigo 155, §2º, inciso IX, alínea “b”, prevê que o ICMS incide sobre operações relativas à circulação de mercadorias. Já a Lei Complementar nº 116/2003, que trata do ISS, elenca em seu anexo os serviços sujeitos a esse tributo, inclusive os “serviços de processamento de dados e congêneres”.

Os programas de computador, em sua forma tradicionalmente fixa (caixas ou mídias físicas), podiam ser mais facilmente classificados como mercadoria. Contudo, com o avanço da tecnologia e a crescente digitalização das transações, temos cada vez mais casos em que o software é licenciado digitalmente, mediante contrato e sem transferência de propriedade. Nessas situações, a caracterização de “serviço” tem ganhado força.

Tipos de Software: Customizado x Padronizado

A jurisprudência acabou firmando distinções úteis entre dois tipos principais de software:

Software de Prateleira

Também chamado de “padronizado”, trata-se da versão comercializada em larga escala, sem customização para o cliente. A natureza desses softwares era historicamente interpretada como mercadoria, ensejando a incidência do ICMS.

Software Sob Encomenda

Nesse caso, o programa é desenvolvido especificamente para o contratante, envolvendo análise, projeto e execução personalizada. Configura uma prestação de serviço, com incidência do ISS.

No entanto, essa distinção, embora útil, nem sempre corresponde às realidades jurídicas modernas, nas quais até softwares padronizados são frequentemente licenciados em nuvem, como serviços recorrentes, sem qualquer transferência de titularidade.

O Papel da Jurisprudência: O STF e o Marco Interpretativo

O Supremo Tribunal Federal tem papel central na consolidação do entendimento jurídico sobre a tributação dos softwares. A análise de temas envolvendo a repartição de competências entre entes federativos requer interpretação constitucional, sobretudo dos artigos 155, inciso II, e 156, inciso III, da Constituição Federal.

Tema relevante já enfrentado pela Corte diz respeito à incidência do ISS sobre o licenciamento ou cessão de direito de uso de software, mesmo quando padronizado, forma que reflete o dinamismo econômico das relações contratuais modernas.

A decisão firmou que a licença de uso de software, ainda que padronizado, mediante pagamento periódico, não constitui venda de mercadoria, tendo, portanto, natureza de prestação de serviço. A repercussão geral atribuída ao tema repercute na forma como empresas devem recolher seus tributos — e na compreensão profissional do jurista em relação ao enquadramento legal de contratos tecnológicos.

Importância do Enquadramento Contratual na Tributação

A estrutura contratual é ponto-chave para a correta incidência tributária. Contratos bem redigidos indicam com clareza se há prestação de serviço, cessão de uso ou mesmo venda. O enquadramento inadequado pode levar à bitributação ou a autuações fiscais por parte dos entes tributantes.

Alguns elementos que devem ser levados em consideração na análise contratual:

Licenciamento ou Transferência de Propriedade?

Licenciar um software implica conceder ao usuário o direito de uso, sem transferir sua propriedade. Nesses casos, tende-se a reconhecer a incidência do ISS.

Remuneração Recorrente ou Venda Avulsa?

Pagamentos mensais ou anuais por uso podem indicar a prestação de serviço, enquanto uma cobrança única pode levar à caracterização como mercadoria (ainda que a jurisprudência atual prevaleça em sentido contrário, priorizando a prestação de serviço).

Fornecimento Exclusivamente Digital

Softwares distribuídos digitalmente (via download ou em nuvem) dificultam o enquadramento como “circulação de mercadoria” — essencial para a incidência de ICMS.

Por isso, tanto a estrutura jurídica contratual quanto a forma de execução da atividade são cruciais para determinar a carga tributária aplicável.

ICMS versus ISS: Consequências Práticas para Empresas e Entes Federativos

A correta compreensão da natureza jurídica da operação de software tem impactos práticos relevantes:

Para Empresas

A definição correta evita a bitributação, reduz riscos de autuações fiscais e permite aproveitamento correto de créditos tributários. Isso impacta diretamente a estrutura de preços, competitividade e compliance fiscal.

Para Municípios e Estados

A delimitação das competências tributárias se relaciona à arrecadação dos entes. A disputa entre ICMS e ISS é também disputa por receitas, o que torna o tema altamente sensível no pacto federativo.

Neste contexto, a especialização do advogado tributarista em matéria de competência tributária, princípios constitucionais tributários e interpretação contratual se torna indispensável para uma atuação consultiva ou contenciosa eficaz. Um caminho sólido para isso pode ser a formação específica na área, como no curso Pós-Graduação em Advocacia Tributária.

Repercussões na Tributação de Softwares como Serviço (SaaS)

O modelo Software as a Service (SaaS), pelo qual o usuário acessa o software remotamente, geralmente a partir da nuvem, mediante pagamento periódico, tem se tornado dominante. A jurisprudência atual tende a interpretá-lo como serviço, sujeitando o modelo à incidência do ISS.

Essa conclusão se baseia nos seguintes elementos:

– Não há circulação de mercadoria.
– A disponibilização contínua e remota caracteriza prestação de serviço.
– O serviço pode envolver elementos adicionais como suporte, manutenção e armazenamento em servidores terceirizados.

No entanto, a ausência de legislação específica que trate do tema obriga o jurista a recorrer à doutrina e à jurisprudência consolidadas como forma de manutenção da segurança jurídica.

Impactos para o Planejamento Tributário

Empresas desenvolvedoras, prestadoras de TI, revendas de software e usuárias corporativas devem atentar para os impactos tributários de como contratam o uso de sistemas. Um bom planejamento tributário exige:

– Conhecimento preciso do regime jurídico aplicável.
– Estruturação inteligente dos contratos de licenciamento.
– Política fiscal ajustada ao novo entendimento jurisprudencial.

Além disso, o conhecimento técnico sobre as bases teóricas e práticas da tributação do software permite ao advogado tributarista propor soluções mais estratégicas para seus clientes.

Legislações Relevantes para o Tema

O jurista não pode focar apenas na Constituição Federal e no Código Tributário Nacional. Deve estudar com atenção:

– Lei Complementar nº 116/2003 (lista de serviços sujeito ao ISS).
– Lei Kandir (LC 87/96), especialmente quanto à definição de mercadoria.
– Decreto-Lei nº 406/1968 (ainda relevante na origem da lista de serviços).
– Código Civil, no que tange à interpretação dos contratos de licenciamento e cessão.

Cabe também acompanhar os julgados do STF e STJ, em especial os que fixarem teses com repercussão geral ou Recursos Repetitivos, pois fornecem diretrizes obrigatórias e práticas para os tribunais inferiores.

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Insights Finais

A tributação dos softwares exige do profissional do Direito muito mais do que leitura de normas. Exige raciocínio sistêmico, capacidade de análise casuística e domínio sobre os conceitos técnicos envolvidos nas operações digitais.

A evolução jurisprudencial, especialmente em sede de tribunais superiores, determina novas rotinas fiscais e contratuais, influenciando diretamente o planejamento legal e tributário das empresas.

Perguntas e Respostas Frequentes

1. Qual a diferença entre software como serviço (SaaS) e software de prateleira no que se refere à tributação?

O SaaS geralmente é considerado prestação de serviço – portanto, sujeito à incidência do ISS. Já o software de prateleira, quando distribuído fisicamente, foi tradicionalmente tratado como mercadoria, sujeita ao ICMS. Com a digitalização, até mesmo softwares padronizados distribuídos online são considerados serviços.

2. O que acontece se um Município e um Estado cobrarem tributos diferentes sobre a mesma operação de software?

A chamada bitributação pode gerar conflitos, e cabe ao contribuinte buscar a reparação, preferencialmente por vias administrativas ou judiciais, com base na jurisprudência dominante que reconhece como sendo o ISS o imposto devido na maioria dos casos de licenciamento de software.

3. A decisão do STF vale para todos os casos de software?

Depende. As decisões do STF com repercussão geral devem ser observadas por todos os tribunais, mas sua aplicação ao caso concreto exige análise da forma como o software é disponibilizado – se por venda, cessão, licenciamento etc. A interpretação pode variar nos detalhes.

4. Posso planejar tributariamente a forma de licenciar meu software?

Sim. Estruturar corretamente os contratos e a forma de remuneração (por exemplo, via licenciamento contínuo e suporte agregado) pode tornar o enquadramento tributário mais adequado às atividades da empresa e reduzir riscos fiscais.

5. Qual curso é recomendado para se aprofundar na tributação de tecnologias como o software?

Para um aprofundamento técnico e prático na área tributária, o curso Pós-Graduação em Advocacia Tributária da Galícia Educação é altamente recomendado. Ele oferece base sólida para enfrentar casos concretos e atuar estrategicamente no contencioso ou na consultoria jurídica.

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Acesse a lei relacionada em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp116.htm

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Este artigo teve a curadoria do time da Galícia Educação e foi escrito utilizando inteligência artificial a partir de seu conteúdo original em https://www.conjur.com.br/2025-jul-05/tributacao-de-softwares-o-que-mudou-e-o-que-ainda-pode-mudar-apos-as-decisoes-do-stf/.

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