Responsabilidade Civil de Estabelecimentos na Guarda de Menores

Artigo sobre Direito

Responsabilidade Civil de Estabelecimentos na Guarda de Incapazes

A responsabilidade civil por danos causados a crianças e adolescentes durante a permanência em estabelecimentos educacionais, recreativos ou similares é um tema de grande relevância na prática jurídica. A análise envolve diferentes áreas do direito, sobretudo o Direito Civil e os direitos da criança e do adolescente, exigindo do profissional jurídico não apenas domínio técnico, mas também sensibilidade sobre os riscos e deveres envolvidos na guarda de menores.

A responsabilidade civil objetiva e subjetiva: fundamentos legais

No ordenamento jurídico brasileiro, a responsabilidade civil pode ser objetiva ou subjetiva. A regra geral no Direito Civil é a responsabilidade subjetiva, que exige comprovação de dolo ou culpa do agente, nos termos do art. 186 e art. 927 do Código Civil.

Contudo, há exceções expressas em lei em que se adota a responsabilidade objetiva — ou seja, sem necessidade de comprovação de culpa — e uma dessas situações é justamente a guarda de incapazes por instituições que fornecem serviços mediante remuneração.

Nos termos do parágrafo único do art. 927 do Código Civil, aplica-se a responsabilidade objetiva às atividades de risco, e a jurisprudência tem se consolidado no sentido de que instituições que se responsabilizam pela guarda de crianças, mesmo que temporária, assumem esse risco inerente.

Além disso, o art. 14 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) estabelece que os prestadores de serviço respondem objetivamente pelos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação do serviço, incluindo aqueles relacionados à segurança.

Portanto, quando se trata de instituições que recebem crianças em período de recreação, educação ou cuidado, presume-se que há relação de consumo, atraindo a incidência do CDC e estabelecendo a responsabilização objetiva.

Capacidade civil e dever de guarda

De acordo com o art. 3º do Código Civil, os menores de 16 anos são absolutamente incapazes para os atos da vida civil. Essa incapacidade implica que terceiros responsáveis pelo cuidado do menor assumam o dever jurídico de guarda e vigilância durante o período em que a criança estiver sob sua custódia.

Assim, se a criança é deixada sob os cuidados de uma instituição, essa entidade passa a deter o chamado dever de guarda funcional, que é a obrigação legal de zelar pela integridade física, emocional e psicológica do menor durante o tempo em que está sob suas responsabilidades.

Falhar nesse dever, ainda que de forma culposa, caracteriza omissão específica, cujo nexo causal pode atrair direto o dever de indenizar.

Danos morais e materiais em casos de lesão a menores

Nos casos em que há lesão a criança durante a permanência em instituição, é possível a reparação por danos morais e materiais. Os danos materiais referem-se a despesas médicas, psicológicas ou outros gastos diretamente relacionados ao evento lesivo.

Já os danos morais, definidos como os prejuízos extrapatrimoniais sofridos pela vítima, são praticamente presumidos em se tratando de lesão a infantes. A jurisprudência, inclusive do Superior Tribunal de Justiça (STJ), caminha no sentido de reconhecer o abalo psicológico em menores como dano moral passível de reparação mesmo sem necessidade de provas aprofundadas, dada a hipervulnerabilidade do menor no contexto jurídico.

Em muitos casos, também é possível a indenização em favor dos genitores legais, que são lesados indiretamente pelo sofrimento infligido ao seu filho, o que integra a categoria de reflexos indiretos previstos na Teoria do Dano em Ricochete.

Aumento da vigilância em contratos envolvendo incapazes

A jurisprudência exige um grau de diligência acentuado para aqueles que se propõem à guarda de incapazes, caracterizando o que se denomina obrigação de resultado na prestação do serviço — isto é, presume-se que o resultado esperado é a preservação da incolumidade física e psíquica da criança.

Nessa linha, qualquer desvio nessa expectativa, salvo causas excepcionais cuja comprovação incumbe ao fornecedor de serviço (como caso fortuito externo ou força maior), atrai a responsabilização civil.

Responsabilidade pela omissão: o fundamento da culpa in vigilando

Embora a responsabilidade de muitos desses casos seja objetiva, ainda que seja necessário discutir culpa, a doutrina e jurisprudência apontam para a incidência da teoria da culpa in vigilando.

A culpa in vigilando está relacionada ao dever de supervisão constante dos menores por parte daqueles que assumem sua guarda. Se alguém se compromete a cuidar de uma criança, deve manter vigilância proporcional à idade do menor, à atividade desempenhada e aos riscos envolvidos no ambiente.

Essa supervisão deve ser ativa e eficaz, de modo que a ocorrência de dano pode ser interpretada como falha neste dever. Importa observar que, à luz do entendimento predominante, não é aceitável alegar a impossibilidade de antever ou evitar situações envolvendo outros menores ou a negligência de cuidadores — por se tratar de risco inerente à atividade assumida.

Teoria do risco da atividade na jurisprudência nacional

A Teoria do Risco da Atividade tem aplicação direta em atividades que oferecem risco à integridade física de terceiros, especialmente quando esses são hipossuficientes, como é o caso de crianças. Esta teoria, fundamentada também no art. 927, parágrafo único do Código Civil, justifica a responsabilização objetiva por incidentes que decorrem do funcionamento regular da atividade.

Além do mais, a responsabilidade por atos praticados por terceiros (inclusive outros menores ou mesmo funcionários da instituição) pode ser imputada à instituição responsável, nos termos do art. 932, inciso III do Código Civil, em combinação com o art. 933, que esclarece que essa responsabilidade subsiste ainda que não haja culpa pessoal do responsável.

Prevenção como elemento jurídico obrigatório

O dever de prevenir riscos é uma imposição legal nos contratos que envolvem guarda de incapazes, o que importa investir em protocolos de segurança, treinamento de pessoal e vigilância ativa. A ausência de evidência de medidas preventivas reforça o nexo de causalidade nas ações de responsabilidade civil.

Ademais, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu art. 70, impõe a obrigação de prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança, tanto por parte da família como por entidades de atendimento. Essa previsão se conecta diretamente com o dever de indenizar nos casos de falha preventiva.

Importância da atuação preventiva para mitigação de riscos jurídicos

O advogado que assessora tais instituições deve alertar para esses riscos e contribuir com a implementação de medidas adequadas, inclusive a revisão contratual para excluir cláusulas abusivas, revisar seguros, criar manuais de conduta e organizar rotinas de fiscalização interna.

Esse papel jurídico ativo é fundamental tanto para a gestão de crises quanto para a minimização de litígios futuros. Profissionais que desejam atuar com responsabilidade civil com excelência devem aprofundar-se nesses aspectos técnicos e práticos do cuidado com vulneráveis. Um caminho relevante para isso é a especialização adequada, como a que é oferecida na Pós-Graduação em Prática da Responsabilidade Civil e Tutela dos Danos.

O papel do Judiciário e a reafirmação da proteção à infância

O Poder Judiciário tem exercido, de forma consistente, um papel de reafirmação da proteção integral à criança, conforme os ditames constitucionais (art. 227 da Constituição Federal). A jurisprudência reforça que, em havendo falha no dever de guarda, impõe-se a indenização.

Mesmo em situações em que o acidente decorre de outro menor, ou de fato aparentemente imprevisível, a inexistência de controle efetivo ou de protocolos rígidos pode levar à responsabilização da empresa, sob o entendimento de que assumir a atividade implica suportar seus riscos.

Quer dominar Responsabilidade Civil envolvendo incapazes e se destacar na advocacia? Conheça nosso curso Pós-Graduação em Prática da Responsabilidade Civil e Tutela dos Danos e transforme sua carreira.

Insights Finais

A atuação jurídica em responsabilidade civil por guarda de incapazes exige crescente vigilância técnica, ética e prática. Advogados que dominam esse tema estão preparados para lidar com clientes em situação de vulnerabilidade emocional e jurídica, além de poderem prevenir riscos estruturais em instituições.

Saber fundamentar pedidos indenizatórios, fazer prova do nexo, discutir valores compensatórios e antecipar estratégias de defesa são habilidades que diferenciam o profissional moderno.

Perguntas Frequentes

1. A instituição responde mesmo que o responsável legal tenha assinado termo de responsabilidade?

Sim. Termos genéricos não excluem a responsabilidade legal da instituição, sobretudo em atividades que envolvem guarda de menores. Cláusulas excludentes de responsabilidade podem ser consideradas abusivas sob o CDC.

2. É possível haver indenização para os pais, mesmo que não tenham sofrido prejuízo físico?

Sim. O dano moral reflexo, conhecido como dano em ricochete, é reconhecido pelo STJ em casos de lesão a entes queridos, especialmente quando se trata de crianças.

3. Como comprovar o nexo de causalidade em caso de omissão da instituição?

Depoimentos, vídeos, prontuários e ausência de medidas preventivas podem caracterizar a relação entre a omissão e o dano sofrido pela criança, sendo suficiente para configurar a responsabilidade da instituição.

4. E se o dano for causado por outra criança dentro da instituição?

Ainda assim, pode haver responsabilidade da instituição, pois existe o dever de vigilância e prevenção. O risco da convivência entre crianças deve ser previamente previsto e controlado.

5. A responsabilidade é sempre objetiva nesses casos?

Na maioria das vezes, sim, especialmente em se tratando de prestadores de serviços mediante remuneração. Todavia, em situações específicas, ainda pode ser arguida a responsabilidade subjetiva, especialmente fora da relação consumerista.

Aprofunde seu conhecimento sobre o assunto na Wikipedia.

Acesse a lei relacionada em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm

Busca uma formação contínua com grandes nomes do Direito com cursos de certificação e pós-graduações voltadas à prática? Conheça a Escola de Direito da Galícia Educação.

Este artigo foi escrito utilizando inteligência artificial a partir de uma fonte e teve a curadoria de Fábio Vieira Figueiredo. Advogado e executivo com 20 anos de experiência em Direito, Educação e Negócios. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP, possui especializações em gestão de projetos, marketing, contratos e empreendedorismo. CEO da IURE DIGITAL, cofundador da Escola de Direito da Galícia Educação e ocupou cargos estratégicos como Presidente do Conselho de Administração da Galícia e Conselheiro na Legale Educacional S.A.. Atuou em grandes organizações como Damásio Educacional S.A., Saraiva, Rede Luiz Flávio Gomes, Cogna e Ânima Educação S.A., onde foi cofundador e CEO da EBRADI, Diretor Executivo da HSM University e Diretor de Crescimento das escolas digitais e pós-graduação. Professor universitário e autor de mais de 100 obras jurídicas, é referência em Direito, Gestão e Empreendedorismo, conectando expertise jurídica à visão estratégica para liderar negócios inovadores e sustentáveis.

Assine a Newsletter no LinkedIn Empreendedorismo e Advocacia.

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Escolas da Galícia Educação
Fique por dentro
Inscreva-se em nossa Newsletter

Sem spam, somente artigos.