Reeleições em Mesas Diretoras Legislativas: Limites Constitucionais e Controvérsias Jurídicas
O que são as Mesas Diretoras e qual sua função no ordenamento jurídico?
As Mesas Diretoras desempenham um papel fundamental no funcionamento dos órgãos legislativos, tanto no âmbito federal quanto nos níveis estaduais e municipais. Elas são compostas por membros eleitos entre os parlamentares e têm como principal atribuição conduzir os trabalhos legislativos e administrativos das respectivas Casas.
As competências das Mesas estão delineadas nos regimentos internos de cada parlamento, mas também encontram limites e fundamentos na Constituição Federal. No caso do Congresso Nacional, por exemplo, o artigo 57 da Constituição de 1988 estabelece regras sobre seu funcionamento, duração das sessões legislativas e regras internas de organização.
O que diz a Constituição Federal sobre reeleições nas mesas diretoras?
O dispositivo central no ordenamento jurídico brasileiro que trata da reeleição das Mesas Diretoras está no artigo 57, §4º da Constituição Federal. Tal dispositivo dispõe que:
“Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas por mandato de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente.”
Portanto, para a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, é vedada a reeleição de membros das Mesas Diretoras para o mesmo cargo dentro da mesma legislatura. A expressão “na eleição imediatamente subsequente” foi interpretada, historicamente, como uma limitação para impedir qualquer tipo de manutenção continuada no poder de lideranças legislativas específicas por meio da manipulação de mandatos.
Reeleção nas casas legislativas estaduais e municipais: entre autonomia e limitação
O princípio da simetria constitucional
No Brasil, a estrutura federativa determina que os entes subnacionais — estados, Distrito Federal e municípios — organizem seus próprios parlamentos (Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais). Todavia, essa autonomia organizacional está condicionada ao chamado princípio da simetria constitucional.
Este princípio é amplamente aceito pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele exige que os entes federados espelhem, em seus sistemas normativos, regras fundamentais estabelecidas para o Congresso Nacional, sobretudo no que se refere aos direitos fundamentais, à separação de poderes e à estrutura das instituições do Estado.
Em decisões anteriores, o STF reconheceu a impossibilidade de reeleição nas Mesas das Assembleias Legislativas estaduais com base na simetria ao art. 57, §4º da CF. Assim, mesmo quando Constituições Estaduais e Regimentos Internos permitem a reeleição, tais normas encontram-se eivadas de inconstitucionalidade formal por violarem o pacto federativo e o princípio de simetria.
A jurisprudência tem sido uniforme?
A controvérsia sobre a reeleição em Mesas Diretoras de casas legislativas estaduais e municipais permanece presente no próprio STF. Embora decisões reconfirmem a necessidade de observância ao princípio da simetria para impedir reeleições sucessivas, há casos em que o Tribunal, por razões de especificidade fática ou por decisões monocráticas, admite interpretações mais flexíveis.
Essa oscilação interpretativa, por sua vez, gera insegurança jurídica e instabilidade política no âmbito subnacional. O problema se agrava quando se agrega à discussão o argumento da autonomia legislativa dos Estados e Municípios previsto nos arts. 25 e 29 da Constituição Federal.
A configuração dessa tensão entre autonomia federativa e unidade constitucional desafia cotidianamente tanto advogados públicos quanto privados, especialmente aqueles que atuam em controle de constitucionalidade e direito público.
Implicações jurídicas da reeleição indevida nas Mesas Diretoras
Ato nulo ou anulável?
Uma das consequências centrais da reeleição de um parlamentar para o mesmo cargo na Mesa Diretora, quando vedada, é a nulidade do ato de eleição. A nulidade absoluta decorre da inobservância de norma constitucional de reprodução obrigatória pelas constituições estaduais e leis orgânicas municipais.
A doutrina majoritária entende que tais vícios não são passíveis de convalidação. O ato de eleição para a Mesa em desconformidade com a Constituição é nulo de pleno direito, podendo ser objeto de controle jurisdicional a qualquer tempo, inclusive por meio de ação direta de inconstitucionalidade (ADIn) ou mandado de segurança com efeito suspensivo imediato.
Controle judicial e seus limites
Apesar de o Judiciário ter competência para realizar o controle de legalidade e constitucionalidade dos atos legislativos, há limites institucionais que visam preservar a separação de poderes. O STF tem reafirmado que o Poder Judiciário apenas deve intervir nos assuntos internos das casas legislativas quando houver manifesta inconstitucionalidade ou ilegalidade do ato praticado.
Essa baliza é essencial para manter a harmonia entre os poderes e evitar o ativismo judicial excessivo.
Aspectos políticos e jurídicos da perpetuação de poder
Riscos institucionais da reeleição sucessiva
A autorização para reeleições sucessivas nas Mesas Diretoras pode comprometer o equilíbrio interno do Poder Legislativo, favorecendo a concentração de poder político e dificultando a renovação das lideranças. Além disso, enfraquece os mecanismos de freios e contrapesos essenciais em uma república democrática.
A lógica da alternância de poder, prevista explicitamente no art. 57, §4º da Constituição Federal, tem como objetivo preservar a impessoalidade, a lisura dos processos legislativos e reduzir a personalização do poder nas instituições democráticas.
Consequências para o controle externo e accountability
A perpetuação de um mesmo grupo no comando das casas legislativas diminui a transparência e dificulta o controle externo realizado pela sociedade civil e pelos órgãos de fiscalização. Há risco considerável de captura institucional, redução da pluralidade política e enfraquecimento dos processos decisórios que dependem da representatividade.
É, portanto, um fenômeno que compromete tanto os aspectos formais da legalidade quanto os materiais da legitimidade das instituições representativas.
A importância da capacitação para atuação em Direito Constitucional e Administrativo
O tema da reeleição nas Mesas Legislativas está intrinsecamente ligado a tópicos avançados de Direito Constitucional, como princípio da simetria, separação dos poderes, controle de constitucionalidade e organização dos entes federativos.
O aprofundamento nesses conteúdos é fundamental para operadores do Direito que atuam no serviço legislativo, no Ministério Público, na advocacia pública e na advocacia especializada em Direito Público.
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Insights finais sobre o tema
A reeleição nas Mesas Diretoras Legislativas representa um campo de tensão onde se encontram, de um lado, o desejo político de permanência no poder e, de outro, as limitações constitucionais que preservam as formas republicanas de governo.
O sucesso institucional do Estado Democrático de Direito depende, decisivamente, do respeito à regra constitucional sobre alternância nas funções diretivas parlamentares. Ainda que existam argumentos jurídicos que tentam mitigar o alcance do princípio da simetria, a jurisprudência dominante tende a preservar o núcleo essencial da Constituição, especialmente quando se trata de freios ao poder.
O advogado que atua com Direito Público precisa estar atento às mudanças jurisprudenciais e às novas provocação que chegam continuamente ao Judiciário. Para isso, investir em qualificação técnica contínua não é apenas uma recomendação: é uma exigência profissional.
Perguntas e Respostas
1. A vedação à reeleição nas Mesas Diretoras vale para municípios?
Sim. A jurisprudência do STF majoritariamente aplica o princípio da simetria também para os municípios, exigindo que Lei Orgânica Municipal respeite os parâmetros da Constituição Federal, inclusive no tocante à reeleição para o mesmo cargo na Mesa Diretora.
2. A eleição irregular pode ser questionada judicialmente?
Sim. A eleição que infringe restrições constitucionais pode ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade, mandado de segurança ou mesmo ação popular, a depender da situação concreta e da legitimidade ativa do autor.
3. A reeleição em legislaturas diferentes é permitida?
Depende. A proibição prevista no artigo 57, §4º, da CF refere-se à recondução imediata. Nada impede que o parlamentar ocupe o mesmo cargo na Mesa Diretora em nova legislatura, respeitada a alternância.
4. Há riscos de judicialização política injustificada nesse tema?
Sim. Apesar de o controle de constitucionalidade ser legítimo, há situações em que a judicialização de questões internas dos parlamentos pode ser excessiva, comprometendo a separação dos poderes. O equilíbrio exige prudência por parte do Judiciário.
5. Quais os principais fundamentos para impedir a reeleição contínua?
São fundamentos essenciais: a alternância de poder, o combate à personalização das funções institucionais, a pluralidade representativa e a necessidade de respeitar as normas de reprodução constitucional obrigatória nos entes federados.
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Acesse a lei relacionada em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
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Este artigo teve a curadoria do time da Galícia Educação e foi escrito utilizando inteligência artificial a partir de seu conteúdo original em https://www.conjur.com.br/2025-jun-26/reeleicoes-em-mesas-diretoras-e-a-instabilidade-institucional-provocada-por-interpretacoes-divergentes-no-stf/.