Locação de Curta Duração: Legalidade e Riscos Jurídicos

Artigo sobre Direito

Direito Contratual e a Tipicidade das Modalidades de Uso de Imóveis Urbanos

O Direito Civil brasileiro, especialmente nos ramos da teoria geral dos contratos e do direito das coisas, enfrenta um dos seus principais desafios contemporâneos: a delimitação jurídica entre contratos típicos e atípicos, com ênfase na definição dos modos de utilização de imóveis urbanos. O debate sobre a hospedagem por curtos períodos em imóveis residenciais — comumente intermediada por plataformas digitais — tem chamado a atenção dos juristas e do legislador, colocando em evidência a necessidade de precisão conceitual no âmbito contratual.

Neste cenário, torna-se fundamental compreender como a distinção entre locação, hospedagem e atividades econômicas se articula na legislação vigente e quais as suas implicações para a liberdade contratual, o direito de propriedade e a função social da moradia. Trata-se de um tema que mobiliza princípios fundamentais do Direito Civil, como a autonomia privada, a função social da propriedade e a boa-fé objetiva.

Contrato de Locação: Conceito e Regulação

O contrato de locação é disciplinado pela Lei nº 8.245/91 (Lei do Inquilinato), que regula a locação de imóveis urbanos, excluídas as situações de hospedagem e comodato. Segundo o artigo 3º dessa lei, “considera-se locação o contrato pelo qual uma das partes se obriga, mediante retribuição, a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel urbano”.

A locação pressupõe continuidade e permanência, ainda que por prazo determinado. Caracteriza-se, igualmente, por um regime de proteção legal que inclui direitos e deveres do locador e do locatário, como garantia do uso pacífico do bem, regras sobre reajuste de aluguel e renovação contratual obrigatória em determinados casos.

Ocorre que essa moldura jurídica tradicional passou a ser tensionada com o aumento dos contratos de curta duração cujo objetivo é abrigar pessoas por poucos dias em imóveis privados, muitas vezes no interior de condomínios residenciais.

Hospedagem e Alojamento Temporário: Divergências Conceituais

O contrato de hospedagem possui natureza jurídica distinta da locação. Regulamentado pelo Código Civil (art. 593 e seguintes) e pela legislação específica relacionada à atividade hoteleira, esse contrato se caracteriza por envolver, além da disponibilização do alojamento, uma série de serviços acessórios, como recepção, limpeza e alimentação, configurando uma prestação de serviços.

A doutrina costuma considerar a hospedagem como contrato típico de consumo, com incidência do Código de Defesa do Consumidor, dada a existência de fornecedores e consumidores em posição funcionalmente distinta. No entanto, quando se trata de modalidade informal de estadia, como as ocorridas entre particulares sem serviços acessórios relevantes, cresce a dificuldade de categorização jurídica. É nesse interstício que surgem os conflitos e as disputas judiciais envolvendo permissividade legal e convivência condominial.

A Função Social da Propriedade e os Limites à Autonomia Privada

O art. 5º, XXII e XXIII da Constituição Federal garante o direito de propriedade, condicionado à sua função social. Já o art. 1.228 do Código Civil prevê que o proprietário pode usar, gozar e dispor do bem, mas deve exercê-lo respeitando sua função social.

No contexto do uso de imóveis urbanos para hospedagem por curta duração, o direito de propriedade encontra limites no interesse coletivo e na destinação do imóvel conforme a convenção condominial. Em muitos casos, o uso reiterado de imóveis residenciais para aluguel de curtíssimo prazo gera desgastes entre condôminos, preocupações com segurança, controle de acesso e descaracterização da moradia como espaço de residência e privacidade.

Para os operadores do Direito, esse embate entre o exercício da propriedade e os interesses coletivos do condomínio revela-se um campo fértil para discussões sobre a função social dos bens e o princípio da boa-fé objetiva nas relações contratuais. O aprofundamento técnico nesse campo é essencial para atuar com segurança em litígios ou consultorias — e para isso, destaque-se a relevância do curso Pós-Graduação em Prática da Responsabilidade Civil e Tutela dos Danos, que proporciona base sólida para enfrentar essas controvérsias complexas.

Tipificação e Interpretação dos Contratos Atípicos

O artigo 425 do Código Civil admite a liberdade contratual de forma ampla, ao permitir a celebração de contratos atípicos, desde que não contrariem a ordem pública, os bons costumes e as normas gerais do ordenamento. Nesse cenário, a chamada ‘hospedagem atípica’ surge como expressão da autonomia privada, mas com limites jurídicos.

Quando se fala em atipicidade, é crucial a mediação judicial por meio da interpretação conforme os princípios e valores do ordenamento, especialmente a função social e a boa-fé objetiva (art. 421 e 422 do Código Civil).

A atuação do jurista, nesse ponto, exige domínio técnico para formulação de cláusulas contratuais adequadas, bem como para o enfrentamento de questionamentos judiciais ou extrajudiciais relacionados à validade e aos efeitos desses contratos.

Impactos na Esfera Condominial

A presença de moradores temporários em condomínios residenciais levanta discussões sobre a admissibilidade dessa prática à luz da convenção condominial. A jurisprudência brasileira ainda se mostra oscilante, com decisões conflitantes — algumas reconhecendo ilícito condominial, outras tolerando a prática com base na ausência de proibição expressa ou sob argumento da liberdade de uso da propriedade.

O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou em ocasiões sobre o tema, mas ainda não há uma tese vinculante consolidada. A tendência é cada vez maior à valorização da natureza do empreendimento: se residencial, o uso repetido como meio de hospedagem pode ser considerado desvio de finalidade, violando a função social e as disposições convencionais.

Esse aspecto reforça a necessidade de os advogados dominarem não apenas o direito obrigacional, mas os regimes de convivência condominial, o que é abordado em profundidade na Pós-Graduação em Direito e Novas Tecnologias, especialmente ao tratar de conflitos urbanos e digitais.

Locação por Curta Duração: Legalidade e Risco Contratual

A locação por curtíssimo prazo gera incertezas jurídicas. Por não se ajustar completamente à definição de locação tradicional (por sua brevidade) nem à hospedagem (pela ausência dos serviços hoteleiros), esse tipo de contratação flutua num campo de insegurança normativa e jurisprudencial.

É impossível ignorar que, na prática, ela oferece vantagens econômicas e liberdade contratual a quem dispõe de bens imóveis, mas simultaneamente pode gerar questões como:

  • Ausência de pactuação clara de direitos e deveres.
  • Dificuldades de comprovação da relação jurídica.
  • Inadimplência e danos ao patrimônio.
  • Conflitos com vizinhança e condomínio.

A solução jurídica passa, muitas vezes, pela criação de modelos contratuais híbridos, com cláusulas específicas regulando uso, garantias, desistência, regras condominiais e responsabilidades. Tal estratégia exige conhecimento técnico refinado, especialmente para prevenir litígios e adaptar os contratos de acordo com a finalidade específica do imóvel, respeitando a legislação aplicável.

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Insights Finais

A utilização econômica de imóveis residenciais por meio de contratos atípicos impõe novos desafios à prática jurídica. O advogado contemporâneo precisa não apenas conhecer a legislação tradicional de locações, mas entender os impactos funcionais, sociais e coletivos do uso do imóvel. A atuação jurídica deve estiolar-se entre a autocomposição condominial, a elaboração contratual cuidadosa e a judicialização minimamente previsível.

A boa-fé, a função social e a segurança jurídica devem nortear a construção de estratégias. Além disso, a especialização constante nas alterações normativas e jurisprudência do setor urbano é indispensável para prestar assessoria segura e atualizada a clientes — sejam proprietários, inquilinos, síndicos ou empresas.

Perguntas e Respostas

1. A locação por curta duração é considerada ilegal?

Não necessariamente. A sua legalidade depende do contexto: existência de convenção condominial proibitiva, finalidade do imóvel, ausência de prestação de serviços típicos de hospedagem e enquadramento jurídico adequado. Pode ser considerada contrato atípico, desde que não viole a função social da propriedade e outras normas aplicáveis.

2. Qual a diferença jurídica entre hospedagem e locação?

A hospedagem pressupõe prestação de serviços (como limpeza, recepção e alimentação) e é regulada por normas do setor hoteleiro. Já a locação é o simples uso da coisa mediante pagamento e é regulada pela Lei do Inquilinato. A distinção tem implicações em responsabilidade civil, aplicação do CDC e regime contratual.

3. O condomínio pode proibir aluguel do imóvel por temporada?

Sim, desde que haja previsão expressa na convenção condominial, devidamente registrada e aprovada conforme as regras legais. A jurisprudência admite a restrição ao uso visando preservar o caráter residencial e a segurança dos condôminos.

4. É possível firmar contrato específico para locação de curtíssima duração?

Sim, por meio de contrato atípico, com cláusulas adaptadas à realidade da ocupação por prazo curto. Porém, recomenda-se cautela e assessoria jurídica na elaboração, para resguardar direitos das partes e previsibilidade dos conflitos.

5. Advogados podem oferecer consultoria preventiva para contratos de hospedagem atípica?

Devem. A consultoria jurídica preventiva é essencial para evitar conflitos futuros, garantir conformidade legal com as normas condominiais e elaborar instrumentos contratuais que minimizem riscos civis e administrativos.

Aprofunde seu conhecimento sobre o assunto na Wikipedia.

Acesse a lei relacionada em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8245.htm

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Este artigo foi escrito utilizando inteligência artificial a partir de uma fonte e teve a curadoria de Fábio Vieira Figueiredo. Advogado e executivo com 20 anos de experiência em Direito, Educação e Negócios. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP, possui especializações em gestão de projetos, marketing, contratos e empreendedorismo. CEO da IURE DIGITAL, cofundador da Escola de Direito da Galícia Educação e ocupou cargos estratégicos como Presidente do Conselho de Administração da Galícia e Conselheiro na Legale Educacional S.A.. Atuou em grandes organizações como Damásio Educacional S.A., Saraiva, Rede Luiz Flávio Gomes, Cogna e Ânima Educação S.A., onde foi cofundador e CEO da EBRADI, Diretor Executivo da HSM University e Diretor de Crescimento das escolas digitais e pós-graduação. Professor universitário e autor de mais de 100 obras jurídicas, é referência em Direito, Gestão e Empreendedorismo, conectando expertise jurídica à visão estratégica para liderar negócios inovadores e sustentáveis.

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