A legalidade das tarifas de importação no Direito Internacional e no Direito Tributário
As tarifas de importação são instrumentos jurídicos e econômicos amplamente utilizados por Estados soberanos para proteger a indústria local, conter déficits comerciais, aplicar medidas de retaliação ou ainda como ferramenta de política externa. Porém, por trás do aspecto técnico do comércio internacional, há uma estrutura jurídica complexa que exige entendimento profundo de ramos distintos do Direito, como o Direito Internacional Econômico, o Direito Tributário e até o Direito Constitucional.
Neste artigo, exploramos os principais fundamentos que tornam lícita — ou ilícita — a adoção de tarifas de importação por parte do Estado, evidenciando os limites legais impostos pela ordem jurídica internacional, os princípios constitucionais e os desdobramentos da tributação aduaneira no ordenamento jurídico brasileiro.
O que são tarifas de importação sob a ótica jurídica?
As tarifas de importação, também chamadas de direitos de importação ou tributos sobre comércio exterior, são tributos incidentes sobre bens estrangeiros no momento de sua entrada no território nacional. Embora seu impacto seja essencialmente econômico, sua natureza jurídica as insere no campo tributário — são uma espécie de imposto regulado tanto por normas internas quanto por tratados internacionais multilaterais.
No Brasil, o imposto de importação (II) é previsto no artigo 153, inciso I, da Constituição Federal. Além disso, é regido pelo Código Tributário Nacional (CTN) e regulamentos infralegais. Sua função primordial não é arrecadatória, mas regulatória, o que lhe confere determinadas peculiaridades normativas, inclusive quanto à sua majoração ou redução por decreto, conforme a facultatividade prevista no artigo 153, §1º, da Constituição.
Função Extrafiscal e Regime Jurídico do Imposto de Importação
Diferentemente de outros tributos, o imposto de importação possui notória função extrafiscal. Isso significa que o Estado pode utilizá-lo como instrumento de intervenção na economia — o que permite majorá-lo para proteger setores industriais nacionais ou reduzi-lo para facilitar o acesso a insumos produtivos.
O caráter extrafiscal está diretamente relacionado à sua natureza jurídica atípica. A doutrina tributária classifica o imposto de importação como um imposto regulatório, cuja imposição deve harmonizar-se com os princípios da legalidade, isonomia e não confisco, além das limitações constitucionais ao poder de tributar.
Tarifas e o Direito Internacional: compromissos multilaterais
A atuação do Estado na imposição de tarifas não se dá de forma ilimitada no plano internacional. Isso porque os países estão vinculados a compromissos jurídicos assumidos em tratados multilaterais, especialmente no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). A OMC organiza as relações comerciais através de um sistema de normas que regulamentam tarifas, subsídios, barreiras não tarifárias, contenciosos, entre outros aspectos.
A imposição unilateral e desproporcional de tarifas viola diretamente o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), documento fundacional deste sistema. O princípio do tratamento nacional (artigo III) e o princípio da nação mais favorecida (artigo I) são dois pilares dos acordos multilaterais.
No entanto, o GATT prevê exceções. O artigo XIX permite medidas de salvaguarda em casos de aumento de importações capazes de causar dano grave à indústria doméstica. Já o artigo XXI permite medidas baseadas em segurança nacional, embora seu uso seja extremamente restrito. Estados que ultrapassam esses limites podem ser denunciados ao Órgão de Solução de Controvérsias da OMC.
Legalidade tributária e a política aduaneira interna
Do ponto de vista da legalidade interna, qualquer tributo — incluindo o imposto de importação — precisa respeitar o princípio da legalidade, previsto no artigo 150, inciso I, da Constituição Federal. Porém, o §1.º do artigo 153 permite que o Poder Executivo altere as alíquotas do II por decreto, dispensando lei formal.
Isso significa que, diferentemente de outros tributos, o imposto de importação pode ter alterações de alíquotas de forma mais dinâmica. Essa prerrogativa deve, contudo, observar os limites constitucionais, como:
Princípio da Isonomia
A seletividade do imposto de importação pode ser usada como forma de proteger setores estratégicos, mas está sujeita ao princípio da isonomia, conforme artigo 150, inciso II. A discriminação arbitrária entre importadores, setores ou países pode configurar violação a esse preceito.
Proibição de Confisco
O artigo 150, inciso IV, veda tributos com efeito de confisco. Assim, mesmo tarifas com função regulatória devem respeitar um limite razoável. O Supremo Tribunal Federal já se manifestou sobre esse tema, como nos julgados RE 582.461 e RE 594.015, onde analisou majorações abusivas nas tarifas de importação.
Impactos da política tarifária sobre a livre concorrência e defesa da ordem econômica
Para além do aspecto tributário, a política de importação deve respeitar os fundamentos da ordem econômica estabelecidos no artigo 170 da Constituição. Entre eles, destacam-se a valorização do trabalho humano, a livre concorrência e o incentivo à produção nacional.
Medidas tarifárias desproporcionais, ao favorecer um setor com excessiva proteção, podem ferir o princípio da livre concorrência, gerando prejuízos a consumidores, à eficiência econômica e à inovação. Por isso, deve haver um equilíbrio entre proteção e abertura.
Por outro lado, é legítimo o uso de tarifas moderadas para defender a indústria nacional contra práticas de dumping, subsídios ilegais ou importações predatórias. Nesses casos, é possível adotar mecanismos como direitos antidumping, deveres compensatórios e medidas de salvaguarda, conforme prevê o ordenamento internacional e a Lei nº 9.019/95, que regulamenta a aplicação de medidas compensatórias no Brasil.
O papel da jurisprudência e os limites ao arbítrio estatal
O Judiciário brasileiro tem se mostrado atento à necessidade de controle das medidas tarifárias, especialmente quando usadas de forma abusiva ou não fundamentada. O controle da legalidade, da razoabilidade e da proporcionalidade tem sido exigido em diversas decisões.
Entretanto, o Judiciário também reconhece a importância estratégica do imposto de importação como ferramenta de política econômica. Por isso, evita interferir diretamente em decisões discricionárias legítimas, desde que não violem princípios fundamentais da Constituição.
É nesse contexto que a formação jurídica do profissional que atua com comércio exterior, tributação aduaneira e direito internacional se torna essencial. Dominar as bases desta interseção de ramos jurídicos exige formação sólida e conhecimento atualizado dos tratados multilaterais, doutrina e jurisprudência.
Se você deseja aprofundar seu conhecimento nas questões que envolvem tributação sobre o comércio exterior, práticas fiscais e sua regulação jurídica estratégica, conhecer a Pós-Graduação em Advocacia Tributária pode ser um excelente ponto de partida para transformar sua atuação profissional.
CTA
Quer dominar o Direito Aduaneiro, a tributação internacional e os limites constitucionais das tarifas de importação? Conheça nosso curso Pós-Graduação em Advocacia Tributária e transforme sua carreira.
Insights relevantes para profissionais do Direito
1. A atuação estratégica envolve múltiplas áreas
Não há como tratar de tarifas de importação apenas sob a ótica do Direito Tributário. O profissional precisa compreender o Direito Internacional Econômico, os tratados multilaterais, o Direito Constitucional e até os aspectos concorrenciais envolvidos na medida.
2. O uso legítimo das tarifas exige justificativas técnicas robustas
O Estado pode recorrer a tarifas, mas deve sempre demonstrar a proporcionalidade da medida. Jurisdições nacionais e órgãos como a OMC têm exigido estudos de impacto e justificativas econômicas concretas que sustentem a decisão estatal.
3. O abuso de tarifas pode provocar litígios comerciais e sanções
Países que impõem tarifas unilaterais podem sofrer retaliações comerciais ou questionamentos legais no sistema multilateral. Isso demonstra a importância de não apenas estudar a lei interna, mas também compreender o jogo geopolítico do comércio internacional.
4. A jurisprudência é ferramenta de equilíbrio
Os tribunais têm papel importante no controle dos abusos na aplicação do imposto de importação. O estudo da jurisprudência permite ao advogado identificar precedentes úteis em casos complexos de defesa empresarial ou conflitos tributários.
5. Saber tributar é também saber desenvolver políticas públicas
Profissionais de Direito que atuam com políticas públicas, economia ou planejamento fiscal precisam dominar o funcionamento das tarifas como instrumento regulatório. Sua aplicação interfere diretamente na indústria, no consumo e na arrecadação.
Perguntas e respostas comuns
1. Um país pode aumentar unilateralmente as tarifas de importação?
Pode, desde que respeite os compromissos assumidos em tratados internacionais, como os acordos da OMC. Medidas excessivas ou discriminatórias podem ser questionadas internacionalmente.
2. O Brasil pode alterar a alíquota do imposto de importação por decreto presidencial?
Sim. O artigo 153, §1º da Constituição permite que o Poder Executivo altere as alíquotas do Imposto de Importação por meio de decreto, em função do seu caráter extrafiscal.
3. O que diferencia a tarifa de importação de um subsídio indireto à indústria nacional?
A tarifa de importação encarece o produto estrangeiro, protegendo o nacional. Já o subsídio reduz os custos da produção local. Ambos visam proteger a indústria doméstica, mas por meios distintos.
4. É possível contestar judicialmente a majoração de uma tarifa de importação?
Sim, especialmente se demonstrado que a majoração é confiscatória, desproporcional ou fere princípios constitucionais como a legalidade e a isonomia.
5. Quais são as principais fontes legais para o estudo das tarifas de importação?
O Código Tributário Nacional, a Constituição Federal, a Lei nº 9.019/95, o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), além da jurisprudência do STF e tratados da OMC.
Esse entendimento sistêmico fortalece o profissional e o prepara para atuação estratégica em um cenário econômico cada vez mais globalizado.
Aprofunde seu conhecimento sobre o assunto na Wikipedia.
Acesse a lei relacionada em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9019.htm
Busca uma formação contínua com grandes nomes do Direito com cursos de certificação e pós-graduações voltadas à prática? Conheça a Escola de Direito da Galícia Educação.
Este artigo teve a curadoria do time da Galícia Educação e foi escrito utilizando inteligência artificial a partir de seu conteúdo original em https://www.conjur.com.br/2025-jul-21/trump-tarifas-e-contradicoes/.