A confissão ficta e seus limites no processo do trabalho
Fundamento legal da confissão no processo do trabalho
No processo do trabalho, a confissão ficta tem previsão no artigo 844 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). De acordo com esse dispositivo, o não comparecimento do reclamante à audiência implicará o arquivamento da reclamação, salvo motivo relevante. Para o reclamado, a ausência importa revelia e confissão quanto à matéria fática.
Já no artigo 385 do Código de Processo Civil (CPC), aplicado subsidiariamente ao processo do trabalho, temos a distinção entre confissão espontânea e confissão presumida. A confissão ficta, neste contexto, é aquela que decorre da inércia da parte que, regularmente intimada, não comparece à audiência ou deixa de apresentar defesa.
A aplicação do instituto, entretanto, não é absoluta. A jurisprudência trabalhista vem identificando situações em que, mesmo diante da ausência injustificada ou de comparecimento com impossibilidade de depor, a pena de confissão pode ser relativizada. É aí que entram os limites materiais, constitucionais e principiológicos da confissão.
Princípios que limitam a aplicação da confissão ficta
A aplicação da confissão ficta deve observar as garantias fundamentais do processo. A teoria dos poderes do juiz e a aplicação dos princípios da ampla defesa e do contraditório (artigo 5º, incisos LIV e LV da Constituição de 1988) impõem que a pena de confissão não se estabeleça de forma automática.
Além disso, o princípio da primazia da realidade, amplamente adotado no Direito do Trabalho, também interfere aqui. Mesmo na ausência da parte que deveria depor, o conjunto probatório pode conduzir o magistrado a conclusão diversa da que seria presumida pela confissão. Isso porque a prova no processo do trabalho é dotada de menor formalismo, e o convencimento do juiz é guiado pelo princípio da busca da verdade real.
Justificativas legalmente aceitas para afastar a pena de confissão
O afastamento da pena de confissão depende de uma justificativa acolhível, devidamente demonstrada nos autos. A CLT não apresenta um rol taxativo de causas justificadoras, o que abre espaço para análise casuística.
No entanto, a jurisprudência consolidou que causas que envolvem força maior, motivo relevante ou caso fortuito – como acidentes, emergências médicas inadiáveis, crises de saúde mental ou internações – podem afastar a confissão ficta.
O juiz do trabalho atua com margem de discricionariedade para aferir a veracidade e adequação da causa. Exige-se, portanto, a imediata comprovação do impedimento, via documento idôneo. Um simples alegado desconforto psicológico, sem laudo ou relatório, pode não ser suficiente. Por outro lado, o atestado médico ou documento hospitalar fundamentado pode levar ao afastamento da pena.
O papel do juiz na produção da prova
O artigo 765 da CLT estabelece os amplos poderes instrutórios do juiz do trabalho. Isso significa que o magistrado não está adstrito apenas à prova produzida pelas partes. Ele pode determinar a produção de provas de ofício, inclusive solicitando diligências que clarifiquem fatos controvertidos.
Em função desse poder instrutório, mesmo quando a parte faltante incorra na confissão ficta, o juiz pode descartar sua aplicação se os autos revelarem elementos probatórios contundentes em sentido oposto.
Dessa forma, o julgador deve sopesar a confissão ficta como elemento probatório, mas não é compelido a decidir segundo suas presunções se houver outros elementos que desconstituam essa presunção.
Responsabilidade do advogado na condução da audiência
A ausência injustificada de partes em audiências no processo do trabalho pode também impactar advogados que não cuidaram da devida assistência ao cliente. É dever do advogado instruir corretamente a parte sobre a obrigação de comparecer, os riscos do não comparecimento e colher previamente documentos que eventualmente justifiquem eventual falta.
Ainda, o artigo 5º, §1º, da Instrução Normativa nº 39/2016 do TST prevê que, diante de eventual falta ou impossibilidade de uma das partes, o advogado deve comunicar imediatamente ao juízo e apresentar os documentos comprobatórios em até 24 horas – inclusive por meio eletrônico – para evitar a confissão ficta.
A doença como justificativa processual: aspectos técnicos
O reconhecimento jurídico de uma condição médica como causa impeditiva da presença da parte no processo exige critérios técnicos e sensíveis. Problemas relacionados à saúde mental – como transtornos de ansiedade, depressão, ataques de pânico, entre outros – têm merecido atenção crescente dos tribunais.
Nesses casos, o documento médico precisa indicar a incapacidade momentânea da parte de participar do processo no momento agendado. É desejável que o profissional da saúde justifique a necessidade de repouso ou ausência da audiência, indicando a data específica da crise e o tratamento recomendado.
O Direito, nesse cenário, deve dialogar com a Medicina para decidir com proporcionalidade. Presumir má-fé ou desídia automaticamente em situações delicadas impõe grave obstáculo ao amplo acesso à justiça.
Entendimento jurisprudencial majoritário
De forma geral, a jurisprudência trabalhista dos Tribunais Regionais do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho tem evoluído no sentido de mitigar a aplicação automática da confissão ficta. É cada vez mais aceita a ideia de que a pena não deve ser aplicada mecanicamente, especialmente quando a ausência decorre de demonstração idônea de força maior.
Contudo, há divergência entre os tribunais quanto à rigidez dos requisitos para o afastamento da pena. Alguns colegiados são mais exigentes quanto a prazos e formalidades nos documentos de justificativa. Outros adotam postura mais flexível e humanizada, especialmente em casos que envolvem saúde mental ou colaborador hipossuficiente.
Essa variação exige do advogado que atue com diligência preventiva, preparando adequadamente seus clientes e apresentando provas robustas em eventual ausência.
Articulação entre as provas e uso estratégico da confissão
Mesmo em casos em que a confissão ficta é aplicada, o advogado deve saber manejar bem os elementos dos autos para enfraquecer seus efeitos. A Súmula 74 do TST prevê, em seu item I, que a revelia e a confissão quanto à matéria de fato não produzem efeito se houver nos autos provas em contrário.
Assim, cabe ao advogado trabalhar desde o início na instrução e coleta de provas documentais, testemunhais e periciais que complementem a tese jurídica. A estratégia de suprir falhas com outros elementos probatórios pode salvar causas com eventual aplicação da confissão.
Conhecer a fundo os fundamentos das provas no Direito do Trabalho é essencial para essa atuação segura. Para quem deseja se aprofundar nesse tema, a Certificação em Fundamentos do Direito do Trabalho oferece uma excelente base.
Reflexos da confissão na sentença e na fase recursal
A pena de confissão pode ser decisiva no momento da sentença, influenciando o juízo na valoração da prova. Na prática, ela pode levar à procedência ou improcedência total do pedido, dependendo de quem a sofre: reclamante ou reclamado.
Já na fase recursal, é possível que a parte tente afastar os efeitos da confissão apresentando documentos que demonstrem a impossibilidade de comparecimento. Contudo, o momento ideal para justificar a ausência é o mesmo da audiência. Comprovação tardia poderá ser considerada preclusa, salvo se configurada situação de difícil comprovação antecipada.
Quer dominar a prática da aplicação da prova no processo do trabalho e se destacar na advocacia? Conheça nosso curso Certificação Profissional em Fundamentos do Direito do Trabalho e transforme sua carreira.
Insights finais
1. A confissão ficta não é uma presunção absoluta
A jurisprudência admite sua relativização à luz de provas robustas em contrário e justificativas plausíveis.
2. A saúde mental do trabalhador como fator jurídico relevante
A realidade exige que juízes considerem a saúde mental de forma sensível e compatível com a dignidade da pessoa humana.
3. O advogado tem papel central na prevenção de riscos
A preparação adequada da audiência e imediato fornecimento de documentação são decisivos para o resultado do litígio.
4. A atuação estratégica com provas pode superar a confissão
Mesmo com a presunção em desfavor, é possível reverter o cenário com provas objetivas e bem administradas.
5. Estudo constante sobre processo e provas é indispensável
Entender tecnicamente o funcionamento da confissão e seus limites aumenta o poder decisório dos profissionais jurídicos.
Perguntas e respostas comuns
1. A ausência na audiência sempre gera confissão ficta?
Não. A confissão ficta pode ser afastada caso haja justificativa relevante devidamente comprovada.
2. Posso apresentar um atestado médico depois da audiência?
Depende do entendimento do juízo. O ideal é comunicá-lo o mais breve possível e justificar por que o documento não foi apresentado antes.
3. A confissão ficta gera decisão automática contra a parte?
Não necessariamente. O juiz deve analisar o conjunto probatório antes de decidir com base exclusiva na confissão.
4. É possível recorrer mesmo tendo sofrido confissão ficta?
Sim, é possível. A parte pode tentar demonstrar a ausência de má-fé e apresentar novo conjunto probatório.
5. Como posso evitar a confissão ficta como advogado?
Orientando bem o cliente, monitorando datas com rigor e apresentando justificativas formais e documentadas de forma imediata.
Aprofunde seu conhecimento sobre o assunto na Wikipedia.
Acesse a lei relacionada em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm#art844
Busca uma formação contínua com grandes nomes do Direito com cursos de certificação e pós-graduações voltadas à prática? Conheça a Escola de Direito da Galícia Educação.
Este artigo foi escrito utilizando inteligência artificial a partir de uma fonte e teve a curadoria de Fábio Vieira Figueiredo. Advogado e executivo com 20 anos de experiência em Direito, Educação e Negócios. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP, possui especializações em gestão de projetos, marketing, contratos e empreendedorismo. CEO da IURE DIGITAL, cofundador da Escola de Direito da Galícia Educação e ocupou cargos estratégicos como Presidente do Conselho de Administração da Galícia e Conselheiro na Legale Educacional S.A.. Atuou em grandes organizações como Damásio Educacional S.A., Saraiva, Rede Luiz Flávio Gomes, Cogna e Ânima Educação S.A., onde foi cofundador e CEO da EBRADI, Diretor Executivo da HSM University e Diretor de Crescimento das escolas digitais e pós-graduação. Professor universitário e autor de mais de 100 obras jurídicas, é referência em Direito, Gestão e Empreendedorismo, conectando expertise jurídica à visão estratégica para liderar negócios inovadores e sustentáveis.
Assine a Newsletter no LinkedIn Empreendedorismo e Advocacia.